O
Lado Feio do Amor – Collen Hoover
Ungly Love
Ungly Love
Qual seria o lado feio do amor?
Uma traição?
Obsessão?
Abusos? Dependências?
Só e apenas luxúria?
Sado-masoquismo?
Diferentes tipos de relacionamentos: aberto,
enrolado, livre, descompromissado? Que tal... casual?
Não vou negar que
diante desse título curioso e alguns comentários intrigantes, minha mente
viajou em qual seria o lado feio do amor. Desde traições e decepções até
relações abusivas. Mas claro que eu realmente pensei que o livro fosse explorar
a pootaria luxúria e talvez se esbarrar nos fetiches perversos para
mostrar o lado feio do sentimento. Algo que fosse longe do que a gente
considera “bonito”, ou melhor, convencional, no tão idealizado amor.
Eis que, contrariando
todas essas minhas impressões, a Collen Hoover, traz outra feiura para o amor.
Nada que a gente possa botar a culpa em x ou y personagem, ou na opção de
relacionamento deles. Mas aborda as consequências do que nós não temos controle
na vida e como isso afeta nosso lado mais belo de amar.
Tate Collins estuda
enfermagem e para se dedicar ao seu mestrado, decide se mudar temporariamente
para a casa de Corbin, seu irmão mais velho. Irmão piloto aéreo, quase nunca
está em casa, cenário propício para desenrolar seus planos de carreira. Porém,
Tate mal chega no andar e encontra um bêbado caído no corredor,
atrapalhando a passagem logo de seu apartamento. Só que o que Tate não contava
era que o bêbado fosse amigo, colega e vizinho de Corbin, Miles Archer, um cara
enigmático, que esconde atrás de parede emocional um passado que não deve ser
tocado.
Ligando o botão da
atração, Miles e Tate acabam se envolvendo... Mas sabe aquele papo curioso,
companheirismo dividido, ou até afeto de casais? Esqueçam. A relação dos dois
tem que seguir duas regras: 1- Nada de perguntar sobre o passado. 2- Não ter
esperanças para um futuro. Ou seja, um puro relacionamento casual.
Em capítulos
alternados, temos Tate narrando o presente e a evolução da sua atração por
Miles virar em paixão, e do outro lado Miles, descrevendo seis anos antes o
grande caso amoroso de sua vida, com Rachel. Enquanto a narrativa de Tate é
mais tranquila, as de Miles exalam sentimentos. Diante da apresentação de Miles
distante e neutro do presente, a narrativa de Miles-Seis-Anos-Atrás acaba
balanceando a equação. Sua descrição de paixão por Rachel é tão intensa que
chega a ser um pouco pesada. Algo interessante, porém, é como esses capítulos
são apresentados: o texto é centralizado para simbolizar o momento em que
Rachel torna-se o centro de sua vida.
O curioso é que, com essa
premissa, a minha expectativa de um livro que falasse de “amores não
convencionais” estaria certa. Mas, a partir de toda a construção do livro e
evolução dos personagens, o relacionamento casual não se mostrava como a parte denominada
“feia”. Nem foi integralmente casual, já que desde o início um dos personagens
era afetado diretamente pela atração que sentia do outro.
E é nesse ponto que eu
fiquei meio frustrada na leitura. Com certeza o que mais me chamou atenção no
livro foi essa ideia de casualidade. E a história me fez pensar muita coisa
sobre relacionamentos. Desmitificar, até. Cada relação é válida para quem tá
dentro dela, se ambos respeitam suas condições e se estão bem com elas. Então,
se eles quisessem apenas se satisfazer e os dois tivessem ok com isso, direito deles. Mas e
quando um lado só se submete nisso com a esperança de “algo mais”?
Era o caso da Tate, que
em determinado momento do livro era impelida a continuar num relacionamento que
só fazia mal aos seus sentimentos, apenas na espera que Miles se apaixonasse
por ela. Não vou culpar lados, já que desde o início eles combinaram suas
posturas. E entendo a posição de Tate, pois ela sentia que alguma coisa nele
poderia mostrar mais que indiferença. Mas, até que ponto esse “sentido” dela
estaria correto? Se iludir pensando sempre que algo casual pode evoluir, e
ficar dependente de algo que é apenas satisfação de desejo. Não tem nada de
errado relações assim, se ambas as parte quiserem apenas isso. Eu confesso que
o que me incomodou foi a dependência emocional da personagem e a discrepância
dos sentimentos. Certo, que era porque a história foi narrada por ela e a gente
não tinha acesso a versão presente do Miles, mas me incomodou mesmo assim.
Voltando a verdadeira
mensagem do livro, o lado feio do amor aparece quando você perde seu coração em
alguma parte de um caminho que era lindo. Um acontecimento ruim que sempre será
associado àquele sentimento que antes era tão puro. Esse é o lado feio. O amor,
a amizade, respeito, admiração e outros tantos sentimentos belos podem estar
sujeito a ganharem lados feios igualmente, afinal é de imprevisibilidade que a
vida é feita.
O amor pode ter dois
lados. O que vai definir é como iremos lidar com eles. Se vamos nos fechar para
o mundo ou encará-lo de frente, sentir as consequências e aprender com elas.
Saber que as dores sempre estarão lá, mas o lado bonito também, nem que ele
venha de formas diferentes das quais estamos acostumadas. O lado belo pode ser o centro de novo.
Por fim, meu aval final
é que o livro foi bem gostoso de ler. Com seu caráter sedutor, suas cenas
picantes, intensidade, aquela mensagenzinha e romantismo também, apesar de toda
casualidade. E acho que foi aí que me frustrei no final... O romantismo trouxe
sua carga de clichê enoooooooooooorme para o fim. O livro tinha um potencial
bem maior para acabar de um jeito tão comum.
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